2.2 A RELIGIÃO E SUA CONTRIBUIÇÃO PARA A HUMANIDADE.

Do processo civilizatório estudado anteriormente ficou claro que a vida humana neste planeta evoluiu com o passar do tempo e na convivência com o ambiente. Observou-se que a religião faz parte desta conscientização do homem em relação ao mundo onde vive e morre. É na Religião que este homem aterrorizado pelas forças da natureza, busca coragem para sobreviver e dominar o meio onde vive. Estes atributos o diferenciam dos outros animais.

A Religião é o nome dado ao conjunto de dogmas e práticas próprias de uma confissão religiosa, bem como é o nome dado ao culto prestado a uma divindade.[1]

Acredita-se que a religião apareceu quando o homem surgiu.

Antes da escrita, não há uma informação concreta sobre religião, isso porque só havia a comunicação oral. Assim, antes da escrita eram valorizados os mitos[2] e o ritual e posteriormente, com a escrita, os dogmas.[3]

Os que defendem o monoteísmo dizem que o sacrifício de animais foi uma prática comum às religiões, sendo indicada pela Bíblia como parte da religião original.[4] E, que, o surgimento da humanidade e sua cultura evoluiu conforme relata o livro do Gênesis.

Há, também, outra resposta que nega essa afirmação, que afirma que o homem evoluiu a partir de um antepassado pré-símio (espécie de macaco). Sendo assim, o medo do desconhecido o levou à religião, ao "animatismo" "ou a crença numa poderosa, aterrorizadora força inescrutável".[5]

Do animatismo passou-se ao "animismo", que seria a religião do medo dos espíritos. Nesse caso, inicialmente o homem primitivo acreditava que as coisas naturais - animais, plantas, rios, as estrelas no céu fossem animadas. Que almas e espíritos ou divindade estavam por trás ou habitavam essas coisas e que por isso reagiam sobre o homem como seres pessoais, conforme os mesmos princípios que determinam as relações do homem com seus semelhantes. Depreende-se disso, que o homem primitivo considerava a natureza parte de sua sociedade. Como na concepção deles, esses seres tivessem alma e espírito e sendo poderosos, então acreditavam que pudessem prejudicar ou ajudar os seres humanos. Logo, deveriam ser adorados.[6]

Depois surgiu o "politeísmo", que foi imortalizado na literatura grega como a adoração a muitos deuses. O mundo dos deuses no politeísmo é organizado da mesma maneira que o dos homens, numa família ou num Estado.[7]

Em meio caminho entre politeísmo e o monoteísmo tem-se a MONOLATRIA que e a crença e um só deus, sem rejeitar a existências de outros deuses (esse deus pode ser um governante) e o HENOTEÍSMO: Concepção de que existem vários deuses mas que um possui a qualidade suprema.[8]

Chega-se então à crença dominante que é o "monoteísmo", ou a convicção de que existe um só deus. Por conseguinte, a natureza é concebida como criada por um Deus, conseqüentemente uma manifestação de sua vontade justa e toda-poderosa.[9]

Desta forma, segundo o princípio da retribuição, todos os males, principalmente a morte, são conseqüências dos pecados dos homens.[10]

Há também aqueles que acreditam que a força divina é a alma do mundo, que, portanto, é algo impessoal, que está presente em tudo o que existe. A essa manifestação religiosa chama-se "panteísmo", que associado ao misticismo[11], passa como ideal humano, a fusão homem e Deus.[12]

Mas a crença preponderante é o monoteísmo, a grande glória de Israel,[13] por ter sido capaz de reduzir os muitos deuses das nações a um único deus tribal.[14]

Assim, de acordo com a Bíblia,[15] o primeiro homem verdadeiro era um monoteísta e quando ele desagradou sua divindade procurou se reabilitar através da oferta de animais em sacrifício. A Bíblia descreve a origem dos seres humanos através de um casal, criado por Deus, à sua imagem e semelhança, que inicialmente encontrava-se de acordo com sua vontade e que por fim degeneraram-se naquilo que se é hoje.[16]

É fato inconteste que em todas as fases da história da humanidade e todos os povos conhecidos, sempre se encontram uma ou outra forma de Religião. Mas não se pode firmado nos fatos conhecido, determinar com precisão qual a forma originária de Religião em toda a humanidade.[17]

Pode-se, no entanto, verificar que o Antigo Testamento apresenta um monoteísmo verdadeiro. Nele, Javé é um Deus único e solitário. O monoteísmo do Islã é tributário do monoteísmo bíblico.[18] Já o monoteísmo do Cristianismo é diferente porque admite três realidades pessoais na única natureza divina. Existe ainda o monoteísmo do Masdeísmo,[19] que apresenta um dualismo, personificando os princípios do bem e do mal em Mesda, o deus supremo.[20]

A verdade, pois, é esta: o ser humano é um espírito aberto para o infinito, para o absoluto, para o transcendente, e é este absoluto,[21] "este transcendente que ele encontra na experiência religiosa".[22]

Nesse sentido, a Religião tem acompanhado a humanidade em todos os tempos.

Com base no processo civilizatório antes estudado, pode-se observar que a Religião tem sido uma das causas de mudanças, do desenvolvimento, das conquistas humanas, mas também produziu conflitos que desmantelou impérios. Observar, ainda, que a desunião do bloco soviético, deveu-se em grande parte às intervenções religiosas, destacando-se o trabalho do Papa João Paulo II,[23] que foi um embaixador da paz na luta contra a Guerra Fria que ameaçava a destruição do planeta.[24]

Mas as mudanças não fizeram desaparecer o medo e a ansiedade que pesa sobre a humanidade. O arsenal nuclear da Antiga União Soviética, o desenvolvimento da capacidade nuclear do Paquistão, da Índia, do Irã e de Israel, dentre outros e os testes realizados pela China demonstram que os seres humanos estão se preparando para um novo conflito mundial. Soma-se a isso, a aterrorizadora pobreza da África, os países do terceiro mundo endividados, o aumento da AIDS (ou Síndrome da Imunodeficiência Adquirida - SIDA), enchentes, tusinames, enfim, tudo sugere um futuro turbulento. Junte-se ainda, a engenharia genética, o potencial de guerra civil, o materialismo do Ocidente, o problema do aquecimento do globo terrestre, então se começa a pensar em apocalipse, pois o Novo Testamento, prevê tudo isso e muito mais.[25]

Diante dessa realidade novamente é a religião que afirma: "Um dia Jesus[26] vai voltar, e este mundo com suas dores e injustiças, dará lugar a uma nova terra centrada em Deus".[27]

Essas definições proféticas das religiões monoteístas trazem especial preocupação para o historiador, ou qualquer ser humano um pouco mais atento ao processo civilizatório, porque denota uma certa idéia de predestinação.

Essa forma de crer faz com que cada religioso seja na verdade um colaborador para realização das profecias. Tendência que tem gerado conflitos e guerras em todas as fases da história da humanidade.

A seguir passar-se-á ao direito como uma esperança inteligível para que a humanidade encontre um caminho de equilíbrio.

[1] VICENTE, et al, 1994, p. 2895.

[2] Um mito é uma história que geralmente acompanha um rito. GAARDE, Jostein. O livro das religiões. Victor Hellern, Henry Notaker. tradução Isa Mara Lando. São Paulo: Companhia das Letras, 2000. p. 19.

[3] Um dogma, no campo filosófico, é uma crença/doutrina imposta, que não admite contestação. No campo religioso é uma verdade divina, revelada e acatada pelos fiéis. No catolicismo os dogmas surgem das Escrituras e da autoridade da Igreja Católica. VICENTE, et al, op. cit., p. 1209.

[4] AA.VV, 1996, p. 30.

[5] AA.VV, loc. cit.

[6] KELSEN, 2001, p. 138.

[7] GAARDE, 2000, p. 20.

[8] GAARDE, loc. cit.

[9] KELSEN, op. cit., p. 139.

[10] Ibid., p. 39.

[11] Misticismo é aquilo relacionado ao sobrenatural, ou seja, aquilo que não é puramente científico e depende de uma crença adicional para ser fundamentado. Aquilo não relacionado ao materialismo. O misticismo pode ser também qualquer crença que admite a comunicação dos homens com Deus ou algum ser imaterial ou entidade divina. AA.VV, 1996, p. 436.

[12] PIAZZA, Waldomiro Octávio. Introdução à fenomenologia religiosa. 2. ed. Petrópolis: Ed. Vozes, 1983. p. 82.

[13] O Estado de Israel é um país no Oriente Médio, na extremidade sudeste do Mar Mediterrâneo. É uma república democrática parlamentar fundada em 14 de Maio de 1948. É o único Estado judeu em todo o mundo . Faz fronteira com o Líbano no norte, Síria e Jordânia ao leste e Egito no sudoeste. A capital do país e sede do governo é Jerusalém, que é também a residência do Presidente da nação, repartições do governo, suprema corte e o parlamento. MCKENZIE, 1983, p. 456.

[14] AA.VV, op. cit., p. 30.

[15] A palavra grega Bíblia, em plural, deriva do grego bíblos ou bíblion que significa "rolo" ou "livro". Bíblion, no caso nominativo plural, assume a forma bíblia, significando "livros". No latim medieval, bíblia é usado como uma palavra singular - uma coleção de livros ou "a Bíblia". Foi São Jerônimo, tradutor da Vulgata Latina, que chamou pela primeira vez ao conjunto dos livros do Antigo Testamento e Novo Testamento de "Biblioteca Divina". É sinônimo de "Escrituras Sagradas" e "Palavra de Deus". Os livros bíblicos considerados canônicos pela Igreja Católica Apostólica Romana são ao todo 73 livros, sendo 46 livros do antigo testamento e 27 do Novo. A Bíblia Católica contém 7 livros a mais no Antigo Testamento do que outras traduções bíblicas usadas pelas religiões cristãs não-católicas e pelo Judaísmo. Esses livros são chamados pela Igreja Católica de deuterocanónicos ou livros do "segundo Cânon". A lista dos livros deuterocanônicos é a seguinte: Tobias, Judite, I Macabeus, II Macabeus, Sabedoria, Eclesiástico (Ben Sira ou Sirácida) e Baruque. Além disso, ela possui alguns trechos a mais em alguns livros protocanônicos (ou livros do "primeiro Cânon") de Ester e Daniel. Outras denominações religiosas consideraram estes livros deuterocanônicos como apócrifos, ou seja, livros ou escritos que carecem de inspiração divina, reconhecendo, porém, o valor histórico dos livros dos Macabeus. A Bíblia de Jerusalém é considerada atualmente pela maioria dos lingüistas, como a melhor bíblia de estudo, aplicável não apenas ao trabalho de teólogos, religiosos e fiéis, mas também para tradutores, jornalistas e cientistas sociais, independente de serem católicos, protestantes, ortodoxos ou judeus. MCKENZIE, op. cit., p. 123.

[16] AA.VV, op. cit., p. 31.

[17] PIAZZA, op. cit., p. 43.

[18] PIAZZA, 1983, p. 77.

[19] Masdeísmo é uma religião naturalista que foi organizado por Zaratustra ou Zoroastro. Tem seus fundamentos fixados no Avesta e admite a existência de duas divindades (dualismo), representando o Bem (Ormuz-Mazda) e o Mal (Arimã). Onde, nessa luta, quem venceria seria o Bem. Os masdeístas não representam seus deuses em esculturas e não têm templos. Deixou traços nas principais religiões mundiais como o judaísmo, cristianismo e islamismo.A doutrina de Zaratrusta foi espalhada oralmente e suas reformas não podem ser entendidas fora de seu contexto social. O indivíduo pode receber recompensas divinas se lutar contra o mal em seu cotidiano, como pode também ser punido após a morte caso escolha o lado do mal. Os mortos são considerados impuros, então não são enterrados, pois consideram a terra, o fogo e a água sagrados, eles os deixam em torres para serem devorados por aves de rapina. AA.VV. Biblioteca de auxílio ao sistema educacional. 1. ed. São Paula: Livraria Ed. Iracema, 1994. v. 10. p. 3389.

[20] PIAZZA, op. cit., p. 77.

[21] Define-se o Absoluto, em Filosofia, como a "realidade suprema e fundamental, independente de todas as demais" e também: "verdade primária em que se baseiam todas as outras, que, por isso, são relativas". Como indica a sua Etimologia (solutus ab omni re), o absoluto compreende o que é "em si e por si", independentemente de qualquer outra consideração ou condição: é a quinta-essência da abstração, a essência e o termo da generalização. AA.VV., op. cit., p. 70.

[22] PIAZZA, op. cit., p. 88.

[23] Papa João Paulo II, nascido Karol Józef Wojtyła, (Wadowice, 18 de Maio de 1920 - Vaticano, 2 de Abril de 2005) foi o Sumo Pontífice da Igreja Católica de 16 de Outubro de 1978 até a data da sua morte, e sucedeu ao Papa João Paulo I, tornando-se o primeiro Papa não italiano em 450 anos (desde o holandês Adriano VI, no século XVI). Teve o 3.º papado mais longo da história do catolicismo. Seu funeral foi o maior de um Chefe de Estado em toda a história. AA.VV., op. cit., p. 2009.

[24] AA.VV, 1996, p. 394.

[25] AA.VV, 1996, p. 388.

[26] Jesus de Nazaré, Jesus Nazareno ou Jesus da Galiléia (8-4 a.C. - 29-36 d.C.) é a forma grega do nome Yeshua e por ser filho de Maria com José, o carpinteiro, em Belém, por tradição da época é conhecido por Yeshua ben Yoseph, ou seja, Jesus filho de José. Por intermédio de Jesus e dos seus ensinamentos nasce o cristianismo. Os cristãos o reconhecem por Cristo, de onde se origina a nomenclatura Jesus Cristo. O nome Jesus, (do hebraico, Yeshua), significa "Deus Salva", ou "auxílio do Senhor" (Yah). Seus discípulos o chamavam Messias, ou "o ungido do Senhor". O nome Cristo vem do grego (Christós), que significa "Ungido". Os cristãos consideram-no o filho de Deus e, para a maioria destes, também o próprio Deus enviado à Terra para salvar a humanidade. Embora tenha pregado apenas em regiões muito próximas de onde nasceu, sua influência tornou-se mundial. Com sua morte por crucificação seus seguidores foram perseguidos e martirizados. Nas arenas romanas alguns entregues à morte pelos leões, contudo o cristianismo cresceu. Alguns segmentos judaicos o consideram um profeta, outros um apóstata. Para os adeptos do islamismo Jesus é um grande profeta. A sua influência também é marcante em outras religiões, como as de origem gnósticas e espiritualistas. MCKENZIE, 1983, p. 479.

[27] AA.VV, 1996, p. 388.

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